quarta-feira, 25 de março de 2009

No Moon

Ao círculo de vácuo
pendulo ondulando
procurando-te em terra
saindo do mar.
Desembrulho os fios dos meus cabelos
com as pontas dos meus dedos
libertando-os da poeira das estrelas
pois que em breve o teu ar domará este fogo
que desliza a fervilhar pela espádua abaixo
Sem luar ele não descansa
a luz não o apazigua como brasas
e o meu espírito não resfolega.
Então, meu amor, vim por este meio
pedir-te permissão para me diluir em ti
nos meus sonhos de olhos encetados
em que por breves momentos me alimentarei do teu gracioso ar
mesmo que ilusório, os estímulos chegarão ao corpo
e às pontas das minhas chamas.

terça-feira, 24 de março de 2009

Dona Idalina



A típica idosa transmontana usa o cabelo branco num polpo e as vestes de luto em memória do seu falecido esposo. Não é de certo uma bênção perdurar em terra mais anos que o seu homem, é uma dor quase pré-histórica e ancestral.
Vem das cavernas, do mar, das guerras, da morte. A dor de quem espera. E consegue-se ver nos olhos da Dona Idalina, azuis profundo céu, com mais memórias do que as águas podem transportar, pois transbordam, que observei-a olhando para atrás de rosto no tecto da casa, contando-me as saudades, lamentando-se de como é atroz a solidão. Se pelo menos a dona Idalina soube-se voar...ali tão perto da senhora paisagem duriense, aqueles vales marítimos, as camas do rio. Ah...mas não.
Ao Sol pude contemplar as suas loiras pestanas, não me contendo perguntei se outrora tinha sido russa, "oh sim! eu e os meus 6 irmãos éramos todos russinhos, de cabelos crespos e riços" as suas bochechas saltitaram, tão vivas de sorriso, que presenciei, não uma idosa de 84 anos, mas sim uma criança aprisionada dentro de um corpo miúdo, corcovado, mais pequeno do que o seu espírito e maior do que a sua infância. Ah se a Dona Idalina soubesse voar...
O seu tom de voz era a todo o tempo depreciativo, terminava na nota abaixo da do começo, como um lamurio, ou talvez um choro, enternecendo qualquer ser sensível na vontade de a fazer ver o mundo mais de perto, reconfortar as suas mágoas naquele horizonte, despir-lhe as vestes negras, soltar-lhe o cabelo, o sorriso, e ver aqueles olhos cheios de amor para dar explodindo no céu.

Ah...se a dona Idalina souber voar.

sábado, 21 de março de 2009

De tanto amar
as nuvens encarceraram-me da luz
do vento
                 do som
e ao som
                  te vejo de novo ao longe
e ao longe
                  ao longe
traz-me de volta, ancestral
em que de nada o coração morria
sorria
caminhante de serranias,
presta tento à semente luz
vira-te, na primeira esquina à escuridão
cega-te, que a vida prioresa cura,
três à frente, a paixão
nega-lhe o cigarro
funde-te a meu lado se chegaste
                  e se chegaste
descansa
que o mundo te encarcerá da luz
já que,            ela,          respira dentro de ti.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Radio Spring


Sim, que é de Primavera em mim
os átomos polinizados
soam a rádio de campo
e o encanto
se nos teus olhos há quem chame as flores
as mais íntimas boninas colorescentes.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Quote

'Cause i love the peace of this man:

"A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la."

Bob Marley

domingo, 15 de março de 2009

Contígua margem

Contígua margem,
voam-se os meus olhos ao ponto fuga da perspectiva.
Quentes, os meus pés em terra
frios os meus cabelos no mar.
Ao meu ventre se desfaz o adeus
às minhas expressões o teu advento
e ao vento,
meu alento,
venho chamar-te, embora invertida,
que me deito para o céu esta noite.
A meio da nostalgia e nas águas
espalho o meu coração
Ora imenso,
vermelho sanguinolento flutuando com a sua duçura
te encontrará.
Ah...
E haverá o dia em que da Lua ele se faça
inteiro teu, crescendo e morrendo
ao sabor do Sol.

terça-feira, 10 de março de 2009

Oiseau Rouge


Chante, chante mon oiseau
que tu as les yeaux immense d'amour.
Rouge, rouge et votre bic est d'or.
J'évanouie dans votre jardin
et j'ai trouvé ma enchanté cerisier!

Catarina Miranda

segunda-feira, 9 de março de 2009

Cerejeira

Há cerejas no meu quintal,
aquelas esféricas recheadas do sulco ardente refulgente
que no bico se consome, alquebrando-me os restantes sentidos.
E ali fico, edificada ao lado do mastro,
mãe das obesas de 10 centímetros,
que petrificada, olhando-me lá do alto,
pergunta-se se me deu prazer.
Ora ainda de vista cerrada, gozo o gosto,
e fico calada que nem me mexo,
além dos movimentos giratórios das papilas gustativas em êxtase.
Talvez se engolisse, agora mesmo, a cerejeira arreliava-se
e consequentemente não daria fruto
tão igualmente magnífico, como este mesmo, durante muitas décadas!
Não! Talvez séculos! E mesmo depois, morta,
assombraria as outras cerejeiras em seu redor, oh!
E há alma aqui? Há pois!
Nunca conheci ser nenhum que sem alma me desse tamanho alvoroço,
e mesmo que fosse uma efémera sensação de algo,
pois se algo me faz sentir, esse algo também portaria vida!
E a vida tem alma.

sexta-feira, 6 de março de 2009



Há dias em que o meu corpo veste-se de anil
a minha cabeça deita-se acompanhando a curvatura do tronco
numa dança serpenteada cedendo.
Vejo o meu olhar no reflexo do vidro entre mim e a paisagem
e a cortina esvoaça sem haver vento
maneia-se com o teu expirar
vulto branco contrastantes laranjas ao som azul
que na minha face, esbate em escarlate.
Há vida aqui e lá fora, amor.
Ah...
Dos teus dedos à tua pele
sinto faíscas aspirando o mar,
que me respiram. E eu,
que da razão faço coração, diluo-me em ti.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Paisagem Emocional

Contavam-me os ventos aos meus lábios histórias de longe,
das terras de ninguém e num sopro expirei Íris, que dos seus ombros inclinados às águas de Shannon saboreava brandando a sede.
Elevando-se, visualizei o seu tronco esbelto, rodeado de trajes Outonais, rimando com os seus olhos mel, fixados, num transe, no ansioso horizonte.
Do outro lado da sua margem, no verde fusco, Coran respondia-lhe numa prosa mental e telepática. Vendo de onde me encontro, flutuando, decifro os seus olhos como dois circulos imensos e profundos negros que no centro da distância, a meio rio, colidem festivais de cor transcendente e orgásmico.
As duas figuras ficam imóveis durante tempos, apenas os cabelos se movem ondulando no crepúsculo. As cores do céu fecham-se e abraçam-se, diluem-se. A cada morte do Sol, os rubores são destintivamente diferentes a cada dia, e nesse dia...oh nesse dia, aquele amor ascético mental atinguiu o auge, vi vultos abandonando os seus olhos para esbater na mais raia amanhecer, já não havia flúmen nem pasto, os corpos jaziam sob o céu celeste aos tons púrpura anil que deixavam brilhar já os astros que os ascendem. Só eu vira tal romaria, e talvez quem visse não acreditaria, pois sempre soube distinguir a paisagem duma efémera paisagem emocional.
"Enquanto a luz chuvisca, fico atenta às cores que desvanecem no horizonte. Resplandecente o teu corpo evaporado no cerúleo abrasam-me os cabelos"

Catarina Miranda

segunda-feira, 2 de março de 2009

Som

"Há transporte no som,
em cada particula atómica,
ventanias frequênciais.
Moves-te, como faro,
sem cogitar, e de facto
finalmente te encontras."


Catarina Miranda