segunda-feira, 31 de maio de 2010

Venus

Existe um sonho debaixo do teu coxim
Te embala num polverizante aroma de anjo
Te fala das pureza das coisas
Apaga-te toda a memória do Mundo Azul
Te lembra de que é possível só e simplesmente existir
pisar o solo e sentir
cantar todo o teu corpo num grito
Diz te que chorar é libertar
e tuas lágrimas são fagulhas da tua alma
que as expulsa exasperadamente
como se o negro se repelisse da luz imensa que somos

Não ligues nenhum televisor
não deixes que te sugue a liberdade
tu és mais do que ele te mostra
porque um espelho embacio das mesmas aguas turvas
nunca te leverá num caminho

O sonho conta-te que podes olhar para cima
e que deves sentir que ninguem te controla
Pois não podes comprar as nuvens
Não ha dinheiro para pagar ao sol
ele deixa-te habitar-te
podias então viver em ti.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ais

Se as bagadas de ar fresco não soassem a mel
infinito doce dos teus lábios glaciais
por mais que finja ser maior do que pétalas de lis
que o teu corpo, pirâmide impermeável, não recebe nunca mais

Se ais não chegam para te desencantar do abismo
amarei sempre cada teu vinco emotivo
de fonte até à morte
de corpo até alma.

Diz-me em murcho o que te vai no coração
Se é pedra ou calo que te prende uma abolição
porque há salteadores de marés
que me levaram a respiração

Senti que se te levo no vento
te trago em elemento



Catarina Miranda