domingo, 21 de junho de 2009

Ventura

Andei pelas quebradas abismais
Em busca dessa argila que era eu,
Mas nada consegui do que foi meu
Nem vi, sequer, o rasto dos meus ais!

Voltei às convivências espectrais
Da sombra em que o meu ser se converteu
E o sonho que vivi perto do céu
Perdeu-se como as folhas outonais!

Talvez exista ainda na lonjura
A catedral imensa da ventura
Firmando o pedestal do meu desejo…

Talvez exista, sim, quem sabe lá?
Mas onde procurá-la? – Onde está?
Se eu vivo dentro dela e não a vejo?!

Alberto Miranda, Musa incerta (1957)

domingo, 7 de junho de 2009

Trapos da Viagem

Como suas mãos são leves de vento
de tão pesadamente seu coração bater
o meu cabelo emana da minha ternura
e é, então, a combustão que vê dele suster
Somos compassos, senhor, somos a morte vivendo de amor
em cada fagulha planto-lhe cores das ilustres viventes de nosso jardim
as minhas saias emaranham-se no rosal
e voltam às mãos de majestoso meu rei as pétalas apresadas,
porque me prende em seus braços a cada poiso de suas asas
e tudo o que lhe posso oferecer
além de mi alma
trazem os meus trapos da viagem

Nascer

Adormento no meu regaço,
encerro os portões das estrelas.
Que ninguém venha! Pois prontos estão os areais!
A orbita transporta o teu sopro na direcção
minha respiração.
Os veludos encaixam-se em concha
numa atroada propagadora de sonância.
Lá dentro a fecundação,
alvéolo sedento de luz,
ser infinito baqueando contra o tempo.
Ruge, ruge, a vida dentro do silêncio,
mia...
O oceano grita de prazer...

Emerjo.